domingo, 8 de janeiro de 2012

Palmada Educa?


A palmada é uma ação rápida, que alivia os pais, mas nem sempre garante a mudança do comportamento da criança. Nesse momento, é preciso escolher o que é mais importante entre aliviar o descontentamento e ensinar o filho. 

Ao usar a palmada, os pais esquecem que comunicam aos filhos que os problemas são resolvidos com agressividade. É, essa não é a maneira mais eficiente de solucionar uma questão ou de obter uma resposta.

Desenvolver outra estratégia para impor limites e educar com amor são atitudes fundamentais. Educar requer dedicação e envolvimento, é uma ação de amor e de limites. Encontrar o equilíbrio entre ambos é um dos principais desafios e um grande aprendizado para os pais.

Também precisamos lembrar que educar é um processo diário, construído por meio de ações, gestos e pensamentos. As crianças percebem tudo, mesmo quando ainda não sabem explicar o que estão observando e sentindo. Quando os pais têm opiniões e atitudes divergentes, os filhos percebem. Por isso, todos os detalhes são importantes no processo de educação.

Quando uma criança age de forma malcriada é porque ela percebe que há espaço para isso ou alguma comunicação de que essa atitude é permitida. Por exemplo, se em toda vez que ela se comportar mal receber uma palmada, ela conseguiu chamar a atenção dos pais. Quando a criança quiser chamar atenção dos pais novamente, vai agir errado de novo. A palmada não deixa de ser uma maneira de dar atenção. Sabendo disso, os pais conseguem agir de diversas formas e estabelecer limites para determinados comportamentos. Se uma criança estiver brincando e fizer malcriação é mais educativo privá-la da brincadeira, explicando qual atitude impediu que ela continuasse brincando. A ação é mais educadora que a palmada. A educação também é prejudicada quando não há comunicação entre pais e filhos. Comunicar com amor e transparência, independentemente da idade a criança, é muito importante. Estabelecer os limites com os filhos e firmar acordos também é uma ação educativa.

E como os pais podem impor regras e limites sem usar a palmada? 
Os pais precisam ser exemplo de justiça, respeito, dignidade, que são princípios universais. Não adianta falar para o seu filho não mentir se você próprio mente. Ou dizer para ele não ser agressivo se você explode em brigas no trânsito. Tem que explicar: "você escova os dentes porque isso é bom para a sua saúde". Frases como “se você não escovar eu vou te bater” ou “se você não escovar vou ficar triste” não são indicadas. Além disso, é essencial ser paciente. Educar uma criança exige paciência. Muitos pais usam a palmada porque esse é o caminho mais fácil. 
Se você acha que um tapa no seu filho vai fazer com que ele aprenda sobre limites e respeito, mude de atitude já!


A seguir, veja respostas para as dúvidas mais comuns sobre o assunto e, ainda, opções que vão além da palmada para impor limites mesmo nos momentos mais difíceis.


 1 - O tapinha carinhoso deve ser considerado agressão? 
O contato físico entre filhos e pais é fundamental. Nesse caso, você deve ter bom senso e analisar a situação. O tapa representa uma violência, a criança sente dor. Se esse for o caso, o tapa deve ser considerado uma agressão. Do contrário, se o contato faz parte de uma brincadeira, é leve e não incomoda, tudo bem. Mas o tapa pode ser um gesto mandatório e nem sempre os adultos percebem a força exercida. Na dúvida, não faça. 

2 - O que a criança sente quando está apanhando? 
Depende da idade. De um modo geral, a criança se sente agredida e não consegue relacionar o motivo da violência ao que fez para provocar aquilo. Ele sente medo e isso pode gerar traumas, afinal, ela está apanhando por um motivo não compreendido. 

3 - Como a palmada se forma na memória do adulto? 
Ninguém tem lembranças boas de um tapa. Mas como ele vai ser registrado na memória definitiva, varia de acordo com o vínculo afetivo estabelecido com os pais. 

4 – Nesse caso, a palmada pode se transformar em algo aceitável, ou seja, um valor da família?Sim. Antigamente, a palmada era usada como instrumento de educação de forma habitual. Dessa forma, o adulto pode entender que só é possível educar dessa forma, transmitindo os valores de violência e agressão para futuras gerações. 

5 - Na minha casa, fui criado à base de palmada e hoje não tenho traumas. Por que, então, ela pode ser prejudicial ao meu filho? 
Se você pensar dessa forma, deve voltar a assistir TV em preto e branco, andar com carros antigos, usar as roupas fora de moda. O mundo evoluiu em todos os sentidos, principalmente na forma de educar, que é a base da sociedade. Além disso, é impossível prever como um tapa será recebido por uma pessoa. Há quem seja mais tolerante e outros que sofram mais. Quem vai querer pagar para ver se isso causará problemas no filho, se existem outras maneiras de educar? 

6 - Por que bater não educa? Quando o adulto bate no filho, ele está reconhecendo que ficou impotente diante da atitude da criança. Mostra claramente que perdeu o controle de si mesmo e a agressão passa a ser a única maneira de manter a autoridade. A força física de um adulto é maior e se amplia nos momentos de raiva. Testar os limites dos pais é um comportamento típico que faz parte do aprendizado da convivência em família. Embora não seja fácil, os adultos devem lidar com as manhas com carinho e desenvolver a capacidade de dialogar e explicar as coisas para a criança sem violência. Afinal, ela é capaz de entender mais do que se imagina. Além disso, depois de bater muitos pais se arrependem. Essa atitude contraditória não é positiva para a criança. 

7 - Quais são as consequências da palmada para vida da criança? Em primeiro lugar, a criança primeiro não entende por que está apanhando. Pode sentir raiva do adulto e aprender que a força é um meio aceitável de conseguir o que quer. Além disso, para descontar o tapa que levou dos pais, vai bater nos amiguinhos. O adulto não tem moral para dizer que isso é errado, as referências da criança ficam, portanto, confusas. Para piorar, após a agressão, ela vai remoer coisas antigas, trazer à tona mágoas de quem o agrediu e até mesmo querer se afastar do agressor. 

8 – Ela pode, ainda, ter outros problemas no futuro? Sim. A criança que apanha também pode ter dificuldades para respeitar autoridades e receber ordens, já que era controlada pela força física. Ela obedecia para não apanhar ou somente depois de levar uns tapas. Assim, na ausência do castigo físico, perde as referências de até onde pode ir. 

9 - Como agir em situações em que as crianças tiram os pais do sério ou ultrapassam limites, como birras e escândalos em lugares públicos? A questão é colocar os limites claramente para as crianças antes, conhecer bem os seus filhos. Tapas não são capazes de corrigir as falhas na educação. O diálogo, a explicação de que aquilo não é certo, com carinho, é mais eficiente. Pois, dessa forma, a criança compreende melhor. O tapa só vai estancar uma ação que provavelmente irá se repetir. 

10 – Em vez de bater, tem problema gritar com a criança? Sim. Substituir os tapas por gritos também não adianta. É um tipo de agressão verbal, por isso, tem praticamente o mesmo efeito da violência física.  
                  

Educar é ter trabalho. É suor e insistência. Educar não toma atalhos, nem abrevia conversas. Educar as estimula. Quando educamos, preparamos a criança para ser um cidadão. Um cidadão que fará parte da sociedade e deve contribuir para que essa seja um lugar mais justo e digno. Para que a sociedade seja assim, respeitar a autonomia, fazer o bem e justiça são valores necessários. Se você acha que se educa uma pessoa com castigo corporal, seu filho está aprendo a intolerância, a injustiça, a brutalidade. Quando ele crescer, vai usar essas ferramentas para resolver seus problemas e conflitos com mais facilidade que uma criança que aprendeu o valor do diálogo. 


Não tenha pressa para educar. Invista em atitudes que possam frutificar no futuro. Mostre ao seu filho que, apesar do seu tamanho e força, você escolhe usar a inteligência. Nessa relação, o respeito mostra a ele o que o medo jamais ensinará: a confiar nos pais. 

Fontes: 
Kátia Teixeira, psicóloga da clínica EDAC (SP), Cacilda Paranhos, especialista contra a violência infantil do Laboratório de Estudos da Criança 
Psicólogas: Márcia Resende - Luciana Maria Caetano - (Livro: É possível educar sem palmadas? Ed. Paulinas)
Rita Calegari , psicóloga, Hospital São Camilo (SP)

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